Hell’s Paradise é um anime difícil de descrever em apenas três episódios. Sinto que tudo o que eu falar aqui pode, de alguma forma, ser mal interpretado por parte da comunidade dos entusiastas de anime, mas não posso deixar de expor a minha opinião.
Acho que, dentro destes artigos que realizamos, existe, sim, um tanto de análise técnica. Animes e mangás são obras que já lemos ou assistimos há anos, e, por isso, sabemos identificar alguns aspectos técnicos importantes.
Mas mais do que técnica, a Cúpula pretende falar de animes de uma forma leve, pessoal, subjetiva, levando-os a sério (como merecem). E, bem, tem muito a ser elogiado em Jigokuraku, mas, de alguma forma, sinto que ele não é para mim.
E conhecendo todas as pessoas que acompanham a Cúpula, posso afirmar que, com base em nosso público-alvo, talvez não seja para você também. Vem que eu te explico!
- Gêneros: Ação, Aventura, Fantasia
- Estúdio: MAPPA (Shingeki no Kyojin, Vinland Saga)
- Diretor: Kaori Makita (Kakegurui Twin)
- Material fonte: Mangá
- Onde assistir: Crunchyroll
- Novos Episódios: Sábados
Gabimaru, o Vazio
Iniciamos a história de Hell’s Paradise com um garoto franzino, de olhos arregalados e cabelos acinzentados. Gabimaru está sendo condenado à morte, e o cenário é o de muitos outros animes históricos: uma era feudal, baseada na perspectiva do xogunato (Período Edo, me corrijam os historiadores caso eu esteja errada).
Portanto, com a vida por um fio, Gabimaru está frente a frente com a morte. E tentam de tudo: queimá-lo, enforcá-lo, matá-lo à espada – nada conseguem. O corpo do garoto é indestrutível, e, apesar da aparente apatia, diz querer morrer.
Ou seja, ele quer morrer, mas não consegue. É assim que Jigokuraku começa, com cenas badass mostrando o quão extraordinário é Gabimaru. Revela-se que, na verdade, o ninja treinado para ter um corpo sobrenatural também pretende viver para retornar para sua esposa (até ele tem um amor e você não).
Em meio a tudo isso, fornecem aos condenados uma oportunidade de viver: eles irão a uma ilha conhecida como “Paraíso” e buscarão um elixir que concede a imortalidade para o xogum. Então, eles serão libertos de sua condenação. Isso já não faz muito sentido, porque se eu achasse o elixir, eu não teria como ser morta, então eu tomaria de qualquer jeito. Jamais iria conceder ao xogunato. Mas tudo bem.
Dadas as devidas proporções e resumida esta breve história, vamos às minhas percepções destes três primeiros episódios.
Hell’s Paradise não parece autêntico
Calma! Antes de me julgar, vamos aos poucos para que eu te explique meu ponto de vista. Existem muitos elementos em Hell’s Paradise, e é difícil de não relacioná-los a outros animes: ninjas; samurais; era feudal; protagonista assustador de cabelo branco; diálogos que parecem se repetir indefinidamente; ilha perigosa; monstros sobrenaturais.
A princípio, inclusive, lembrou-me muito de Kimetsu no Yaiba e Jujutsu Kaisen, antecessores em lançamento. A obra de Yuji Kaku parece ter uma certa inspiração neles, que se converte em uma outra narrativa. E, bem, antes de entrarmos definitivamente no que será a minha crítica, quero dizer que a premissa é interessante. O Welerson até escreveu primeiras impressões do mangá por aqui!
Gabimaru encontra na sua esposa um lastro de felicidade, e, apesar das mortes que carrega, tenta viver a todo custo para tê-la de volta ao seu lado. Essa parte da narrativa é a que daria algum peso emocional à história, e que me lembra da belíssima caminhada do Thorfinn em Vinland Saga.
No entanto, é possível inferir que este NÃO será o caminho que o roteiro irá tomar. Para deixar claro, eu não li o mangá e não sei o que acontece. Estou falando apenas do que vi no anime. Em vez de tornar Gabimaru um personagem autêntico, original, dono de uma personalidade única, intrigante e cativante, sinto como se ele fosse um NPC neutro demais com características roubadas de outros personagens já vistos anteriormente.
E, por isso, também sinto a mesma coisa em todos os outros personagens. Na verdade, mesmo depois de assistir a três episódios, tive que me esforçar para lembrar o nome da Sagiri (samurai que está encarregada de matar Gabimaru).
Hell’s Paradise não tenta atingir pessoas como eu
E está tudo bem com isso. Apesar do gore, o público-alvo do anime parece ser muito clara, bem como a de sua obra original: homens mais jovens/meninos. Então, ainda há um tanto de frases de efeito, cenas um tanto quanto heroicas repetidas vezes e a hipervalorização do personagem masculino foda (com construção precária, na minha opinião).
Se eu tivesse visto Hell’s Paradise há uns oito anos, você pode apostar que eu iria gostar. Apesar das inconsistências na animação, existem cenas muito interessantes e bem animadas, que dão um hype em quem está começando ou gosta muito de cenas de luta.
Contudo, retomando a perspectiva de crítica ao protagonista em específico, existe ausência de verossimilhança no protagonista e nas suas contrapartes. Ele aparece como uma pessoa vazia. Ele tenta matar todo mundo. Sofre. Olha para a samurai, lembra de sua esposa. De repente, desiste de morrer. Os diálogos são tão rasos que não conseguem penetrar na profundidade que a história poderia chegar.
O que estou tentando dizer é que não há uma linearidade no processo do personagem, e de que essa construção e mudança abrupta no seu pensamento niilista deveria tomar tempo – o tempo que precisasse, já que estamos somente nos três primeiros episódios.
É o meu elogio de sempre ao esforço que Vinland Saga coloca em seus personagens, tornando-os vívidos e relacionáveis ao mundo real. É como se cada momento fosse singular, e te levasse a compreender a dor que cada personagem enfrenta. Os medos, as desilusões e as esperanças. Para mim, falta essa emoção nas personagens de Jigokuraku, e por esse motivo é que não tenho vontade de continuar.
Finalizando as primeiras impressões de Hell’s Paradise
Deixo claro aqui, apesar das críticas tecidas no texto, de que o anime tem expressividade técnica e artística. Tem uma boa trilha sonora e uma opening de tirar o fôlego. O calendário do anime é o do estúdio MAPPA de sempre (sabemos o tamanho do problema), mas os animadores se superam nas adversidades.
Considerando tudo o que falei, acredito que seja uma opção para quem curta ação, bastante sangue e Japão feudal. Pessoalmente, não comprei os primeiros episódios pela falta de conexão às personagens, aspecto que já ressaltamos na Cúpula várias vezes como um dos primordiais para uma boa história (e bom começo).
Muita gente morreu já nesses primeiros episódios, e adivinha o que eu senti? Isso mesmo, nada. Para mim, o sentimento é primordial (parece fala de pagodeiro, mas é isso mesmo).
Por favor, não me entenda errado, mas Hell’s Paradise é uma isca enorme para os otakus: tem o protagonista poderoso de cabelo branco, tem mortes desenfreadas, uma animação interessante, uma boa trilha sonora e mulheres lindíssimas com peitões. É uma versão 2.0 de histórias semelhantes.
E, apesar de todos esses elementos que são a chave para um enorme sucesso de público, e que até agora garantem uma nota de 8,45 no MAL, Hell’s Paradise não conquistou a minha atenção a ponto de investir meu tempo na história de Gabimaru.
Novamente, todos têm a chance de poder gostar do que quiserem. Assim, reconheço a relevância do anime e aprecio seus bons momentos. No entanto, este não passará do terceiro episódio para mim. E você, gostou de Hell’s Paradise? Comenta aí!